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No mês de fevereiro do ano de 1922 ocorria um dos eventos que marcou significativamente o cenário literário brasileiro do início do século XX: a Semana de Arte Moderna. Tal evento é simbolicamente importante pelo movimento artístico consagrado como Modernismo, propondo uma nova visão estética vinculada à independência cultural preconizada na produção de artistas como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Menotti del Picchia, entre outros.

Polêmicas

O evento esteve envolto por polêmicas e por uma recepção ambígua por parte do público.

Dentre as polêmicas, temos a crítica mordaz que o escritor Monteiro Lobato fez às pinturas de Anita Malfatti em 1917, alguns anos antes da Semana. A pintora havia montado uma exposição depois de ter chegado da Europa, sob a influência das vanguardas europeias, mas teve seu trabalho artístico ferrenhamente criticado, concluindo que imagens distorcidas eram resultantes de uma paranoia. Essa tensão acentuou os conflitos entre os modernistas e os defensores da arte clássica, tradicional.

Outro momento polêmico ocorrido no próprio evento foi a declamação feita por Ronald de Carvalho do poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira. O poema é claramente uma crítica aos parnasianistas e ao seu modus operandi poético, como se observa nesses últimos versos do poema:

“Clame a saparia/Em críticas céticas:/Não há mais poesia,/Mas há artes poéticas”. 

Ronald declamou o referido poema em meio às vaias da plateia, já que se percebia nitidamente a ridicularização da poesia parnasiana e a consequente mostra dos princípios modernistas, que não caíram de imediato no gosto do público.

Ainda assim, é inegável a importância da Semana de 22, realizada à época em comemoração ao centenário da Independência do país.

A intenção era propor uma forma de fazer arte livre das amarras do rebuscamento e do preciosismo linguístico, distante da arte extremamente formal, que olhasse de forma crítica para a realidade brasileira no intuito de retratar suas nuances sociais, políticas, culturais, etc.

Assim, temos uma arte voltada para o experimentalismo, para a inserção do negro na arte, para a valorização da nossa história e da nossa formação étnica, contemplando os vários povos que formaram a nossa nação, bem como o cotidiano do brasileiro, evidenciando as favelas, o operário, a língua portuguesa falada no dia a dia, o negro, nossa flora, especialmente, entre outros elementos.

Ademais, vale destacar os movimentos da Poesia Pau-Brasil e o Antropofágico, nascidos dos manifestos elaborados pelo escritor Oswald de Andrade, que defendia uma poesia de exportação, uma poesia brasileira que se utiliza dos elementos estrangeiros, assimilando-os, digerindo-os, para gerar uma poesia genuinamente nacional e que fosse “exportada”, que ultrapassasse os limites nacionais, visto que “[a] poesia anda[va] oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária”. Anos mais tarde, por volta da década de 60, tais questões seriam reencenadas pelo movimento Tropicalista, encabeçado por Caetano Veloso.

A partir de então, a Tropicália se apropria de pressupostos modernistas para pensar uma nova identidade cultural brasileira, sobretudo lançando mão do conceito de antropofagia pensado por Oswald de Andrade.

Centenário

Logo, no ano em que estamos, 2022, comemoramos o centenário da Semana de Arte Moderna, ponto de partida para um movimento artístico questionador, inovador, polêmico, que trazia consigo uma proposta de renovação estética já necessária para aquele momento, a considerar todo o processo de urbanização, migração de estrangeiros e industrialização pelo qual o país passava e que não se coadunava com o pensamento conservador e ainda preso ao passado que insistia em se manter. Para os modernistas, por fim, o Brasil precisava ser pensado e representado a partir de suas múltiplas expressões e sem negligenciar suas múltiplas facetas.

“Tupi, or not tupi that is the question”.

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